Meu corpo todo tremia, era um misto de medo e tesão que eu nunca tivera antes: na quina da cama, de quatro e completamente nu, sentindo o frio do ar condicionado ligado no máximo, eu me arrepiava com os carinhos da mão grande que iam da minha nuca descendo pelas costas até chegar no bumbum, repentinamente interrompidos por uma palmada estalando na pele branca das nádegas, seguida da ordem “empina essa bunda, porra”, dita de forma bem rude e sem rodeios. Por instantes eu me peguei pensando em como tinha chegado até ali.
Sempre curti mulher mas comecei já tarde no sexo, por causa de uma família muito repressora e também por necessidade de trabalhar e estudar muito logo desde cedo. Mas depois que comecei, já com vinte e poucos anos, me esbaldei saindo com muitas garotas e deitando e rolando no sexo fácil de quem já tinha o próprio carro e um salário razoável.
Foi só lá depois de 30 anos que comecei a ter curiosidade sobre sexo entre homens. Na minha infância nunca aconteceu nada nessa área, tipo abusos ou coisas do gênero. Claro que houve uma ou outra cantada na adolescência, como acontece com quase todo mundo. Morando na região metropolitana do Rio de Janeiro e trabalhando ainda novo no centro da cidade, volta e meia aparecia um cara mais velho puxando papo ou se encostando no ônibus ou na barca, mas nunca passou disso nem me atraí por essa parada. Eu era muito magro quando jovem, mas sempre tive quadril largo, e essa forma meio tanajura devia atiçar os caras, embora eu nunca tenha tido qualquer jeito efeminado.
Foi lá pelos trinta e poucos anos, portanto já empregado como advogado, namorada firme e vida tranquila que comecei a fuçar na internet e entrar em chat de homens por pura curiosidade. Com o tempo, lendo as conversas e o assédio próprio desse ambiente virtual, comecei a ter coragem de conhecer caras pessoalmente, se me sentisse seguro, em algum lugar público e sem me expor. Só que ninguém me interessava muito pessoalmente, e eu nem sabia dizer exatamente por que. Simplesmente não dava prosseguimento.
Foi depois de um bom tempo tentando e desistindo que acabei conhecendo um cara que nem tinha o perfil que eu procurava. Ele era negro, mais jovem que eu, 25 anos, estudante bolsista de faculdade onde eu residia, morador de subúrbio, que puxou assunto no chat e após muito insistir acabei me deliciando com o papo dele e levei um bom tempo conversando. Quando ele me convidou a conhecê-lo eu resisti um pouco mas depois concordei, mesmo com aquele frio na barriga característico de quem sabe que tá fazendo bobagem. Afinal, eu tinha namorada, e tinha um cara querendo me encontrar, e ele era mais novo mas já experiente, e segundo se definiu, sempre ativo, principalmente com caras brancos heteros. Ou seja, estava claro o que ele gostava, embora não tivesse sido explícito com relação a mim durante a conversa pelo chat. Mas como me convidou pra um café numa cafeteria próxima, com pouco movimento naquele horário, acabei topando porque estava cheio de curiosidade.
Eu não esperava um cara bonito, pois ele já tinha me avisado que não era. Na verdade o achei bem feinho de rosto. Nem gordo nem magro, nem alto nem baixo, nada que chamasse a atenção a não ser a pele bem negra e os dentes bem brancos na boca grande. Mas o jeito dele me impressionou bastante. Tal qual na conversa pelo chat, ele falava bem, e apesar de estar vestido de um jeito simples, me passava uma impressão boa, de tranquilidade, bem masculino, aquele tipo de homem que dá segurança mesmo. Ele me recebeu com um firme aperto de mão, e já tomou a iniciativa de pedir nossas bebidas. Fui desestressando à medida que conversávamos como dois conhecidos num final de tarde, nada que pudesse indicar qualquer conotação sexual. Era bem falante ele e depois de algum tempo começou a me contar da vida mais íntima dele.
Tinha namorada também, mas segundo ele já saía com caras de vez em quando desde novinho, por volta dos doze anos de idade, quando um amiguinho de colégio teria ficado tão fascinado em vê-lo nu, no vestiário após uma aula de educação física, que ele sem pensar muito segurou no pescoço desse coleguinha e o pressionou pra baixo, fazendo-o se ajoelhar e ficar diante do pintinho negro. O outro garoto ainda hesitou por um instante mas logo já estava pegando na coisa e depois botando a boquinha ali, definindo dali em diante o papel do rapazinho em servir por todo o colegial o garoto preto, que mesmo assim não se furtou a dominar outros coleguinhas, todos branquinhos bem criados de classe média, naquele colégio em que ele só podia estudar porque o pai era zelador.
Ali na minha frente, contando essas coisas com tanta naturalidade, admito que ele me deixou atordoado, quase envergonhado de não ter nem metade daquela masculinidade, e cheio de desejo que eu nem sabia explicar. Ele com certeza percebeu, porque deu um sorrisinho e me perguntou se eu estava de carro, enquanto pedia a conta pra garçonete.
A mocinha trouxe a nota e virou-se pra atender outra mesa, enquanto ele olhava despudoradamente para o seu traseiro. Eu estava impressionado com esse jeito quase rústico de se comportar, ainda mais porque apesar de tudo ele era um cara bem educado, e essa contradição me fascinou. Quando pegou o papel e não me deixou pagar, dizendo que naquele primeiro encontro - foi esse mesmo o termo que usou - a conta era dele, eu senti que estava praticamente a caminho do abatedouro, e o pior é que me senti extremamente valorizado com a situação, atraente, sei lá. Pedi licença para ir ao banheiro e mal conseguia urinar, meu pênis estava tenso, um pouco enrijecido. Ouvi a porta abrir, e alguém se postou no mictório ao meu lado esquerdo. “E aí?”, ele falou com a voz grave, enquanto abria a própria calça e começou a mijar imediatamente. O som do jato forte, contínuo, batendo na porcelana, enquanto ele olhava pra baixo, foi como um chamado irresistível. De um jeito tímido, meio disfarçado, virei de leve o rosto pra poder ver: o membro preto e roliço, encurvado como se a cabeça pesada o encurvasse pra baixo, esquichava a urina que parecia não acabar nunca. Fiquei olhando admirado até que finalmente saíram os últimos esguichos e o negro, com um papel toalha que já tinha na outra mão, secou a ponta da cabeça com cuidado. Só então ele virou o rosto pra mim, olhando nos meus olhos, e em seguida a mãozona que antes segurava o pênis pousou no meu pescoço por detrás, e os dedos me pressionaram devagar mas bem firme pra baixo, indicando bem claramente o que ele queria que eu fizesse. Ele deve ter visto minha cara de espanto em direção à porta e me tranquilizou “Se alguém chegar você levanta, dá tempo. Abaixa!”, e eu nem ousei contestar, ajoelhei enquanto guardava meu próprio pinto. O membro dele agora ali, na minha frente, parecia ainda maior, imponente, e tinha o cheiro inconfundível de pênis lavado pela manhã mas já levemente suado ao longo do dia.
Naquele momento eu me senti completamente bagunçado por dentro, parecia que a repressão moral de toda minha vida estava ali brigando com as forças que tinha contra o desejo que aquele homem me provocava, eu resistia ferozmente a encostar nele. O negão, por sua vez, poderia simplesmente ter empurrado o seu membro na minha boca que com certeza minha resistência iria por água abaixo. Só que isso não lhe bastava. “Chupa“, ele disse, e ante a hesitação do meu conflito interno, senti um pequeno tapa no rosto, me pegando de surpresa e me deixando ainda mais confuso com tudo de novo que estava acontecendo. Minha inércia não ficou impune. A mão grande recuou aberta e, mesmo diante do meu olhar de súplica, voltou rápida, forte, estalando na minha cara que ardeu na mesma hora, e aí percebi claramente que eu estava assustado, com medo, e vencido de um jeito completo. “Chupa, porra!”. Senti meu piruzinho crescer imediatamente, como se o desejo estivesse aflorando bem bruto, liberado de qualquer amarra de consciência. Fechei os olhos e do jeito mais carinhoso que pude envolvi a cabeça daquela piroca com os lábios, tentando agradar igual eu mesmo tinha sido agradado tantas vezes por boqueteiras que conheci na vida. O crioulo - sim, foi mesmo essa palavra que me veio à cabeça na hora, parecia que meu preconceito se rendia à exuberância daquele macho - soltou um som tão grave, um grunhido mesmo, que parecia não vir somente do prazer do toque macio da boca mas também da sensação de ter me dobrado, me dominado, rompido minhas barreiras todas.
Voltei a ouvir esse quase rugido dali a uma hora e mais alguns tapas depois, de quatro na cama, quando aquele garanhão finalmente fez seu piruzão gozar lá dentro de mim, enquanto eu suportava o sacrifício de lhe satisfazer. Eu já tinha gozado, logo que fui penetrado, com muita paciência e surpreendente carinho, mas sabia que não poderia fugir enquanto o macho também não chegasse ao fim. Naquele momento lembrei de novo do garoto branco que aquele negro tinha iniciado no colégio. Estava também destinado a agradá-lo enquanto ele quisesse.