Era como se fosse, a qualquer momento, quebrá-la.
O vai e vem da carne contra a carne, pele contra pele. O pênis se aventurava nas profundezas de seu ser e depois tentava escapar, sem nunca conseguir. Não era exatamente grande, mas havia algo na maneira que ele a tocava que fazia o seu corpo todo reagir. Suas mãos suavam, seus pelos se eriçavam, sua boca produzia mais saliva do que o normal.
Ele esticou-se para beijá-la, e, naturalmente, diminuiu o ritmo. Ela lamentou silenciosamente, mas gostou do beijo. Tinha gosto de papelão. O que, com ajuda da língua áspera, deveria ser ruim, mas era incrivelmente bom. Tão bom que assim que estocou de novo, o orgasmo a atingiu. Invadiu o seu corpo inteiro, e talvez até mais. Seu cérebro se acendeu por inteiro, sua alma retraiu-se, e todos os seus músculos relaxavam. Como se a eletricidade corresse da ponta dos seus pés até o último fio de cabelo, ela se moveu estranho e parou de respirar. Sua visão escureceu.
Por alguns longos segundos, só havia aquilo em seu mundo: prazer.
Quando voltou a si, encontrou-se mordendo o pênis dele com a boceta. Sem qualquer resquício de pudor, ele gemia. Ambos os órgãos já ensopados deslizavam e o barulho dos corpos se encontrando preencheu o quarto. Primeiro a respiração ofegante, e depois os gemidos recomeçaram. Depois daquele primeiro orgasmo, ela queria que ele a batesse. No rosto, na bunda, nas coxas. Em qualquer lugar. Queria sentir mais da sua carne contra a dele.
Entretanto, o que recebeu foi mais daquela língua áspera. Não na boca, entretanto. Mas foi a vez dos seus peitos. Peitinhos pequenos que ela sempre odiou, mas que cabiam quase que perfeitamente na boca dele. Quase não incomodava o arranhar dos dentes. Aliás, talvez até lhe dava mais tesão. E junto com a saliva dele que encontrava com o seu suor, pelos eriçados e pele macia, pensou que acharia logo o seu segundo orgasmo.
E achou.
Puxou os cabelos negros dele e gritou. Gritou como um guerreiro antes da batalha, como um lobo solitário buscando atenção da Lua. Gritou como se ele estivesse a matando, e talvez realmente fosse o caso. O orgasmo mais intenso de toda a sua vida. Tinha certeza que não havia fechado os olhos, mas tudo ficou escuro. E então, já não se importava. Todos os seus sentidos, seus pensamentos, seus sentimentos, sua identidade. Todas as coisas que a faziam ser o que era foram reduzidas a uma enorme onda de prazer. Tão gigante que era quase capaz de a engolir.
E então abriu os olhos.
Percebeu que não havia respirado por todo aquele tempo em que o orgasmo durou, e buscou ar quase como buscava a carne do pênis que ainda estava dentro de si. Olhou para ele, que sorria, parte orgulhoso com o seu trabalho, parte louco para encontrar o próprio clímax de desejo. Retribuiu o sorriso e então afrouxou os dedos que até então seguravam os cabelos dele.
Já quase não tinha mais força, e, as que tinha, usou para mover os quadris enquanto ele já havia deixado parte de seu cavalheirismo e a martelava como se quisesse fazer dos dois um, com força bruta. Todo o corpo dela implorava para que, ao menos, abrisse a boca e se deixasse gemer. Mas não pôde. Mordeu o próprio dedo e estava a ponto de deixar-se ir pela terceira onda de prazer, quando sentiu que tinha sido a vez de ele gozar.
Deveria ficar frustrada, não?
Sentiu o peso do corpo dele sobre o seu, e o cheiro do perfume que tanto gostava que agora se misturava com suor e um milhão de outros cheiros que não saberia definir. Só sabia que gostava. Agora, relacionava aquele cheiro ao orgasmo. Era inevitável gozar sem receber uma visita daquele aroma em seu olfato.
Chama-se memória associativa, ou qualquer merda parecida.
A cabeça dele, colada em seu peito, subia e descia sutilmente, acompanhando o ritmo do respirar ofegante. Sentiu vontade de fazer cafuné naquela cabelereira preta indômita, e o fez. Ouviu ele sorrir, ou só sentiu a boca dele mexer sobre a sua pele nua. Gostava de fazê-lo sorrir assim. Era ele o sujeito mais triste que já conheceu.
Era estranho. Ele era o seu psicólogo. Tinha certeza que aquela situação era estúpida, ou mesmo ilegal. Não apenas por ela pagar por sessões e, ocasionalmente, eles foderem entre elas. Mas por ele ser do jeito que era.
Ficaram algum tempo assim, até que o sangue começou a esfriar e o frio incomodou. Ele se levantou, sentou-se na cama e buscou, no criado-mudo, sua caixa de cigarros e acendeu.
— Você transa com alguma outra paciente? — Não soube dizer exatamente o que a fez perguntar aquilo. Talvez um ciúme infundado. Talvez só o ar entre eles que havia se tornado sufocante sem o sexo.
— Não — confessou, e achou que era melhor, para os dois, que acreditasse. — O seu marido suspeita?
Como resposta, ela sorriu. É claro que ele suspeitava. Só não sabia que estava pagando, indiretamente, por isso. Afinal, o convênio era dele. Foi a vez dela se esticar e beijá-lo, sentir o gosto de papelão nos lábios dele, agora com também a fumaça e nicotina. Deus, como gostaria de odiar aquele homem. Tudo o que ele representava. A barba por fazer, a completa falta de vaidade com o cabelo, a tristeza em seus olhos, o gosto amargo em sua boca.
Mas, Deus, como o amava.
O beijo foi longo, íntimo, cruel. Quando se afastaram e ele voltou a abrir os olhos, um tanto mais tarde do que ela o fez, a encarou com aquele olhar que tanto incomodava. Incomodava porque parecia um poço. Dois universos inteiros que talvez fossem feitos só de tristeza. Merda de psicólogo, ela pensou. Mas sorriu, mesmo assim, ao perguntar:
— De novo, na semana que vem?