Segui com as minhas dúvidas e incertezas ao longo das semanas. Só não havia incerteza na vontade de estar com o Tomás. Quando desse. Como desse. Onde desse.
Rio de Janeiro era o novo destino em poucas semanas. As conversas intensificaram no seu contexto sexual. Desde São Paulo, andávamos experimentando coisas novas, acessórios, óleos de massagem, óleo que esquenta e esfria... Quase tudo para mim é novo nesse mundo. Não sou santa, mas não tive grandes experiências nem vontade de explorar tanto a minha sexualidade com outra pessoa até então. As conversas ajudavam a desinibir. Estávamos longe, a vergonha era disfarçada atrás de uma tela de celular. Ambos tínhamos um ou outro receio de partilhar algum desejo, mais da minha parte. O Tomás sempre instigou isso em mim. Desde que lhe contei da minha falta de experiência nessa área, ele vai testanto até onde vou... A minha vergonha genuína estampada no rosto vermelho como um tomate diverte-o. Mesmo com vergonha, eu testo os meus próprios limites com ele. Como se fosse um namorado a pegar a sua mão e dizer "eu conheço esse caminho". E eu confio nele. Vou para onde for, como já havia dito mais atrás, extrapolando agora para o mundo metafísico.
O Tomás foi-se abrindo mais comigo nesse campo. Ia avançando, passo a passo, até me contar do seu passado BDSM. Achei exótico, não me lembro de ter ficado horrorizada ou algo do gênero. Fiquei curiosa pra saber um pouco mais sobre o seu passado. À medida que ele ia me contando sobre as suas experiências, senti ciúmes. Queria explorar tudo com ele, dentro dos nossos limites, mas que fosse novidade para os dois.
Nos preparativos para o encontro no Rio, o Tomás pergunta se eu teria coragem de conhecer uma casa de swing, sem o intuito de trocar de casal. Ele me explicou algumas coisas que acontecem lá (aprendi termos novos como glory hole) e confesso que me senti atraída. O fato de podermos nos soltar mais num ambiente onde não existem tabus era perfeito. Poderíamos fazer o que fosse na frente de quem fosse sem nos preocupar. Seríamos invisíveis naquele lugar onde tudo era visto. Uma contradição excitante.
Nunca na minha vida pensei que um dia estaria procurando casas de swing para ir com o Tomás. Essa era a nova Cecília. Ele me viu em flor e foi me desfolheando em camadas que não conhecia. Aquele desabrochar era por ele. Talvez seja aquele desabrochar de uma flor exótica que só acontece uma vez na vida. Depois morre.
A nossa relação tem uma morte anunciada. Não tem data, mas estamos presos a esse cenário injusto onde eu aguardo a sentença como um condenado no corredor da morte. Eu tenho tempo nessa cela para chegar ao ponto de me resignar ao destino que me foi dado. Um dia desses, ainda não estou pronta. Raramente, há um pedido de misericórdia atendido no corredor da morte. Milagres acontecem. Mas o mais certo é, um dia, renascer no mundo espiritual. Não tenho pressa. Agarro-me aos ditados "tudo acontece por um motivo", "tudo acontece na hora certa". Então fico à espera do motivo e da hora certa enquanto passo os dias a murchar como aquela flor exótica.
Não conheci o Jardim Botânico no Rio. Não vi flores exóticas pelos caminhos por onde andamos. Vi arquitetura, ruelas, os lugares favoritos do Tomás, boemia, fomos a um bar em homenagem ao St. Patrick onde fantasiamos uma vez casar. Já não podíamos casar na igreja, então, o lugar ideal seria num bar, de preferência irlandês.
Quando alguém está perto de morrer, dizem que tem uma intuição mais aguçada. Eu sentia algo diferente naquele fim de semana. Não sei se era paranoia minha ou se era um prelúdio do que estava por vir. Senti que havia qualquer coisa mudando. Não disse nada. Fiquei quieta. Dessa vez não houve tanta fonte da juventude, apesar de termos ficado esfolados (estaria eu insaciável mesmo??). Teve saída durante o dia, jogo na tv, jogo no celular... e eu só pensava no tempo que queria ter com ele pra fazer isso tudo e mais ascoisas "chatas" do dia-a-dia.
Queria tempo para dizer que estou atrasada, tempo para adormecer no seu peito sem que quando abrisse os olhos ja seria hora de levantar para pegar o vôo de volta para casa.
Esse tempo podia ser negociável. Não me importava de ter esses momentos corriqueiros se, ao menos, de tempos em tempos a gente se encontrasse. Mas não era assim que funcionava. O tempo de espera por um tempo para nós era meio que indeterminado. Até então estávamosconseguindo com um intervalo de cerca de 3 semanas. Até menos. Mas poderia se tornar mais. Eu não me importava. Negociava pelo tempo que fosse. Eu estava negociando quase tudo. Desde a quantidade de dias que podíamos ter juntos até quão longe eu poderia ir nas suas sugestões/fantasias sexuais.
Não "fechamos negócio" com a casa de swing. O Tomás desistiu de última hora. Ficamos apenas pelo risco de alguém nos ver no terraço do hotel, olhando para o prédio onde ele trabalhava, até transar no quarto com as cortinas da janela abertas dando mesmo de frente para outras janelas muito próximas que davam para corredores do mesmo hotel. Eu tive vergonha de início. Achei que apareceríamos no xvideos na seção voyerismo, no mínimo. Mas eu pensei que se estivéssemos na casa de swing, pessoas iam nos ver. Foi uma espécie de teste rápido para mim mesma se eu conseguiria ir um dia a uma casa dessas com ele. Fixei os meus olhos nele e deixei de lado tudo ao redor. Acho que passei no teste. Provavelmente não com louvor. Talvez com média mínima. Mas passei. Era só "pegar na mão dele e confiar que ele sabia o caminho".
A última noite foi light. Ele veio me dizer que não conseguia mais pois estava esfolado. Eu, de pernas bambas, tremendo, esfolada, disse "tudo bem", mas só porque ele quis assim. Se me quisesse mais uma vez eu estaria pronta, ali, de braços abertos (e pernas também) para ele. Não tivemos uma última vez na cama antes de viajarmos. "Tudo bem", pensei. Daqui a 3 semanas teríamos o Peru. Deixaria para esses próximos 12 dias com ele. Uma vez, ele me disse que aquela viagem ao Peru seria a nossa pré-lua-de-mel. Mal eu sabia que isso não chegaria a acontecer...
Cecília e Tomás - O (re)encontro
Cecília e Tomás - 6.Reviravolta