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Cecília e Tomás - 6.Reviravolta

Enviado por: CeciliaTomas - Categoria: Outras

Mais uma volta pra casa. Eu já estava me acostumando a esses encontros pelo Brasil afora e as despedidas pelo coração adentro. Desde o episódio pré-Recife que eu recuei e deixei parte das emoções trancadas onde elas praticamente sempre estiveram a maior parte do tempo. Já não chorava por saudades. Eu as tinha, mas não podia perder o controle das emoções. Via fotos do Tomás com ela (sim, ela se tornou apenas "ela", não consigo falar o seu nome) e me doía, mas doía mais pensar que eu não poderia ter momentos com ele seja de que jeito fosse. Doía menos se ele me dissesse que me amava, que sentia saudades, que me queria. Isso tiraria um pouco do peso das imagens que eu via pois saberia que por trás daquela pose havia também algo para mim.

O dia seguinte ao nosso reencontro foi corrido para ele. Assim eu pensava, sempre que as mensagens não chegavam. Já não falava nem dos telefonemas, que a essa altura já praticamente não existiam. Seria difícil manter aquele ritmo de conversas e contatos por muito tempo. A rotina pesa e fui me apercebendo que os compromissos feitos há mais tempo que o nosso primeiro reencontro também. Isso começou a transparecer depois do episódio pré-Recife.

Não conseguia competir com alguém que estava "presa" a ele no papel. Eu estava presa a ele na alma. Não conseguia rasgar esse meu "contrato". Com o tempo, pode ser que ele esvaneça como esses novos comprovantes cuja tinta apaga-se com o passar do tempo. Mas o risco foi feito na alma e não sei que tinta foi essa que ele usou em mim.

O dia seguinte àquele começou com um "Bom dia. Mandei email". Eu queria que aquele tom tivesse sido engano, que fosse para algum colega de trabalho. Eu tinha me acostumado a ouvir um "Bom dia meu amor". Onde estava o resto da frase? Enquanto respondi-o perguntando e sentindo ao mesmo tempo se tinha acontecido alguma coisa, abri o email com o coração nas mãos. Só de lembrar desse dia já fico com ele nas mãos de novo. Antes de me recompor da falha do envio do email, ele desembucha como se tratasse de um relatório de trabalho: "ela esta grávida de 5 semanas".

O tempo, aquele tempo que tinha sido tão cruel comigo, conosco, não mediu esforços naquele momento. Aquele instante não passava, aquelas palavras ecoavam como uma enxaqueca latejante. No fundo, eu sempre tive receio de receber essa notícia algum dia. Cheguei a pensar nisso uma vez (ou mais) e pensei até em alertá-lo para ter cuidado. Mas quem sou eu para alertá-lo de alguma coisa? Principalmente isso? Parte de mim queria ignorar que essa possibilidade existia. A outra parte tinha receio que, ao alertá-lo, estaria verbalmente admitindo e "autorizando" que ele pudesse estar com outra que não eu, mesmo eu sendo socialmente "a outra" e não ter direito sequer de pensar nisso, quanto mais desejar.

Dizem que quando estamos perto da morte um filme da nossa vida passa pela cabeça.
Ele estava me "matando" naquele momento e a minha vida com ele, o que aconteceu pra trás até então passou pela minha cabeça.

"Bom dia amor, amo você, estou louco por você, por ora será assim mas não será assim para sempre, eu te quero muito, vontade louca de ver você, fico entrando no face para ver o seu rosto, saudade que dói, não vou mais lutar contra esse sentimento, amo você quer acredite ou não, you're my soul mate,... " passaram pela minha cabeça em rewind como se desmoronasse e esfarelasse ao mesmo tempo. De repente, tudo pareceu uma brincadeira, um jogo. Tudo o que foi dito até então não valia de nada?

A ressaca moral de que eu tanto tinha medo (e que perguntei ao me esquivar se ele tinha certeza daquilo) estava a fazer efeito com um delay de 2 meses de calendário. Essa história parece ter pouco tempo, mas a sensação é de ter 23 anos.

Aquele fio de vida que restava em mim oscilava entre dois mundos. Oscilava entre entender que era difícil continuarmos do jeito que estava e "por que acabar?" Se uma pessoa diz que ama outra, nenhuma situação vai "matar" aquele sentimento nem a vontade estar junto.

Queria acreditar que aquela reação foi de choque e que repensaríamos juntos num caminho.

Mas o Tomás foi quase incisivo em me cortar da vida dele como se eu fosse um câncer. Estava sendo difícil pra mim. Tinha acabado de saber que a minha própria mãe estava com câncer. O meu chão já tinha sido tirado e veio esse tsunami para eu me afogar de vez em lágrimas.

Assim que soube da notícia da minha mãe pensei "Não acredito que isso está acontecendo. Não aceito isso". Ia ser difícil passar por essa provação mas pensei também que tendo aqueles momentos com ele iria aliviar um pouco a dor.

Mas depois veio o tsunami e a dor vinha de todos os lados. "Desculpe, não posso mais". Eu me senti uma escoteira que vendia regularmente biscoitos a um rapaz e ele um certo dia decidiu deixar de contribuir para a causa.

Restou-me fazer um discurso doloroso à moda de Lily Collins no filme 'Simplesmente Acontece'. Quando comecei a escrever pra ele, lembrei-me do filme. E o filme lembrava-me de mim, dele, de nós. Fiz o meu "discurso" pelo whatsapp e saí de cena, esperando aquela cena seguinte onde o mocinho não aguenta e vai atrás da donzela. Essa cena não veio.

O mocinho foi de férias para a casa dos pais, sozinho, onde depois de uns dias nos encontraríamos para ir para o Peru. O Peru foi cancelado. O contato parecia ter sido cancelado. A minha vontade era de pegar um avião e bater na casa dos pais ou mandar uma mensagem e dizer "estou aqui na sua cidade", como nos filmes. Mas isso quem devia fazer era o mocinho e o mocinho nesse caso arrancou o câncer, fechou a porta na cara da escoteira e foi de férias descansar. Eu imaginei essa cena mil vezes na cabeça, mas para além de ser tachada como louca, provavelmente iria levar com a porta na cara. Qualquer viagem vale a pena se for para ter um final feliz mas eu não achava que aquela teria. Cada dia que se passava eu pensava que aquele podia ser o dia em que eu o poderia surpreender lá. Era ainda o restinho da romântica que já tinha assistido filmes demais e tentava espreitar para fora do porão, mas ela se escondeu assim que viu que ele não estava só. Era mais um fechar de porta virtual na cara.

O dia em que estaríamos embarcando para o Peru chegou e os dias seguintes foram difíceis de aguentar sem pensar no que poderíamos estar fazendo de bom em vez de encarar a realidade do abandono e segurar a barra com a doença da minha mãe.

Eu só queria sair desse duplo pesadelo, acordar um dia com "bom dia meu amor" outra vez e não ter que escutar sobre metástases e quimio. Pelo menos eu podia chorar pelos dois ao mesmo tempo e ninguém perceber que havia mais outro motivo que não a minha mãe.

Ainda tive notícias dele, mas acho que era mais pelo peso na consciência e só perguntar pela minha mãe. Conversa rápida, seca, quase visita de médico se comparasse com o que era.

Depois disso foram 24 dias sem notícias nenhumas. Isso doía muito. Eu deixei de existir. Não era nada pra ele. Mas não conseguia odiá-lo. Eu queria, mas não conseguia. Preferia querer notícias dele, voltar a conversar, voltar ao que éramos.

Quase um mês depois, às 23:30h recebo uma mensagem: "Oi, como você está?"

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